Rose Volante, primeira brasileira campeã mundial de boxe comentou sobre sua expectativa para a luta do dia 15 de março, em matéria de Matheus Adami no Torcedores.com.
Primeira campeã mundial de boxe do Brasil, Rose Volante quer aumentar ‘coleção’ no próximo dia 15

Aos 36 anos, a paulistana Rose Volante chegou em lugar onde poucas pessoas conseguem no esporte profissional: o topo. A boxeadora é, desde dezembro de 2017, a primeira brasileira a conquistar um cinturão na nobre arte.
E ela quer mais. No dia 15 de março, “The Queen”, como Rose é conhecida, encara a irlandesa Katie Taylor. Em jogo, além do título da Organização Mundial de Boxe (WBO, na sigla em inglês) – um dos órgãos mais importantes do pugilismo profissional -, em posse da brasileira, estarão os cinturões da Associação Mundial de Boxe (WBA) e da Federação Internacional de Boxe (IBF), hoje em poder da europeia.
O embate entre Rose Volante e Katie Taylor vai acontecer nos Estados Unidos, na cidade de Filadélfia, durante o feriado de St. Patricks – um dos mais importantes para a numerosa colônia irlandesa dos Estados Unidos. Ambas estão invictas no boxe profissional. Em 14 lutas, Rose venceu todas, sendo oito por nocaute. Katie, por sua vez, saiu vitoriosa dos 12 combates que travou, cinco deles, nocauteando a rival.
Antes do duelo, que pode fazer com que Rose seja a boxeadora mais dominante na categoria dos pesos-levos (61kg), a atleta conversou com exclusividade com o Torcedores. Confira:
Existe pressão de enfrentar uma lutadora que também está invicta? Aquela coisa de “não posso perder de jeito nenhum?”
A pressão ela sempre existe em todas as lutas e essa tem um peso maior porque são três títulos do mundo em jogo, será uma luta dura para as duas. Luta de campeãs do mundo. Acredito muito no que tenho treinado e me preparado. O que eu fiz para o boxe feminino ninguém tira sendo a primeira mulher campeã do mundo . Sei que alguém tem que perder. Mas estou muito disposta a subir e deixar naquele ringue tudo de mim naquele ringue e trazer mais essa alegria para mim e para todos que acreditam.
E como você acha que a luta vai se desenrolar? É a luta mais importante da sua carreira?
– Será uma luta dura para as duas. Uma vez o título estando na mesa ele não tem mais dona e a campeã será decidida em cima do ringue. Sei que tanto ela como eu estamos nos preparando muito bem, ela é uma grande campeã e fico feliz em honrada em lutar com as melhores porque foi para isso que seu sempre me preparei para ser a melhor lutando com as melhores.
Você é a primeira brasileira a ser campeã mundial de boxe, mas, no Brasil, é difícil ter espaço para outros esportes além do futebol. Como você lida com isso, com essa questão do reconhecimento? Você já imaginava isso quando começou no boxe profissional? E o fato de ser mulher ainda contribui para o reconhecimento não ser tão grande?Creio que o boxe feminino está mudando. Após o esporte ter conquistado uma medalha olímpica inédita em Londres 2012 com a Adriana Araújo (bronze, na categoria dos leves) na qual eu estava lá como reserva, um título do mundo no boxe profissional inédito meu, aos poucos estamos sendo vistas. Este ano tivemos o primeiro ano da Forja de Campeões, torneio tradicional do boxe, e este ano foi a estreia do feminino (Forja para Elas) e o troféu foi em minha homenagem, Troféu Rose Volante. Fico muito honrada e feliz de ver mais meninas conhecendo a modalidade para qualidade de vida e também para competir.
Falta apoio e patrocínio, sim. No meu caso, se não fosse a equipe do Memorial Santos, o técnico Felipe Moledas e meu empresário José “Pepe” Altstut eu já tinha parado de lutar. Por intermédio deles eu vim para Santos treinar e me dedicar e viver do esporte. Tive a oportunidade de ser campeã em 2017.
Já foi vítima de assédio, machismo etc?
Nunca, nunca precisei usar o boxe em alguém na rua.
Como foi o início no boxe? Por que escolheu a modalidade?
Meu início foi em 2008 no clube escola da prefeitura. Procurei o boxe por gostar muito da modalidade, eu e minha mãe gostávamos de ver lutas na TV. Eu estudava direito e fazia estágio. Por uma situação financeira difícil não conseguia mais pagar a minha faculdade, eu fiquei em casa só comendo e cada dia mais gordinha.
Cheguei a meus 105kg, não tinha condições de pagar uma academia. E perto de casa tinha o clube escola da prefeitura, lá procurei boxe por ser algo que eu gostava então iria colher os frutos porque é mais fácil treinar algo que se gosta. Tive uma certa relutância do treinador que não treinava e não gostava de boxe feminino mas depois venci ele pelo cansaço. Comecei a me dedicar, perdi 40kg e depois procurei uma equipe de competição.
A vitória sobre a argentina Brenda Karen Carabajal deu a Rose o cinturão da WBO. A luta aconteceu em 17 de dezembro de 2017, na Argentina, ea brasileira venceu por decisão dos juízes
Você planeja, em algum momento da carreira, lutar MMA? Holly Holm, uma das boxeadoras que mais conquistaram títulos, migrou para o UFC e foi campeã. Você gosta de MMA? Planeja migrar?
Admiro muito, até acompanho mas não tenho o interesse de migrar. Gostaria de seguir por mais tempo no boxe.
A primeira defesa de título de Rose ocorreu em 21 de abril de 2018, em Santos. Ela derrotou a panamenha Lourdes Borbua após interrupção da arbitragem
Em quem você se inspira? Quem é o boxeador ou atleta de outra modalidade que você admira?
Atualmente vejo muitos atletas. Uma que sempre chama minha atenção por estar com 51 anos e ainda em atividade é a Alicia Ashley, uma jamaicana que mora nos Estados Unidos e já foi várias vezes campeã do mundo. Sempre assisti muito o (Mike) Tyson, o Juan Manuel Marquez e brasileiros como Éder Jofre, Popó (Acelino Freitas) e o Sertão (Valdemir dos Santos Pereira).
A última luta de Rose foi contra a colombiana Yolis Marrugo Franco, em 29 de setembro de 2018, em Praia Grande (SP). Ela venceu por nocaute técnico
Você tem 36 anos. Você tem algo já planejado para o futuro?
Eu comecei tarde, e no início já não tinha a intenção de ser uma atleta porque com 26 anos já achava tarde para isso e escutava muitos nãos tbm. Mas as coisas foram acontecendo com muito trabalho, muito suor dedicação, e pretendo lutar enquanto estiver rendendo nos treinos e nas lutas. E após poder viver dos benefícios do esporte sou muito grata ao que o boxe me proporcionou, vim de uma família humilde pai pedreiro mãe do lar e com o boxe pode conhecer seis países e quero continuar após parar a trabalhar com o boxe sim.