Saber a hora de parar
Por Samir Barel
Olá amigos do Lance! Hoje venho compartilhar com vocês mais uma lição importante que aprendi recentemente com a natação em águas abertas. Dias atrás encarei a Travessia de 64 quilômetros do Lago Bodensee, que faz divisa com três países da Europa (Alemanha, Suíça e Áustria). Esse desafio, que teve sua primeira edição em 2011, foi completado por apenas 3 pessoas no mundo tamanha sua dificuldade! A largada foi dada da cidade de Bodmann, na Alemanha, na margem norte do lago. Comecei a nadar ás 16h56 (horário local). O clima estava bom, temperatura da água em torno de 22 graus. Imprimi um ritmo forte desde o começo, frequência de 62 braçadas/minuto. Quando anoiteceu comecei a sentir um pouco de frio e o fato de nadar literalmente em meio ao breu acabou pesando no meu psicológico. Com cinco horas de prova já estava me sentindo meio desconfortável. Meu guia e amigo, Nicolas Fenzl, me deu força pra seguir em frente. A temperatura da água estava boa, entre 20 e 21 graus enquanto a temperatura externa caiu para 13 graus. Um vento forte entrou na calada da noite, mas eu tinha boas condições de nado. Porém, a escuridão durante a natação também aumentou a sensação de enjoo e as dores do corpo ficaram mais fortes. É normal sentir o corpo pesar em provas de longa distância, mas talvez isso tenha ocorrido pois nadei a primeira parte da prova muito forte, me desgastando demais, até que chegou um ponto que não me senti bem para continuar. Uma decisão difícil e triste, mas que faz parte da modalidade. Minha segurança e bem estar vem sempre em primeiro lugar. Eu dependo do meu corpo para viver, trabalhar, continuar nadando que é a minha paixão. Minha esposa está gravida do nosso primeiro filho e foi impossível não pensar: “E se eu continuar e algo mais grave ocorrer comigo?“ Por isso, é preciso aprender a respeitar os meus limites e parar quando for preciso. Nadei 35km em 8h20min. Sei que outras oportunidades virão e o aprendizado dessa experiência com certeza agrega muito mais valor à minha vida do que uma vitória. Aliás, já sou vitorioso pois só tenho à agradecer à todos que torceram e acompanharam essa saga. Bora seguir em frente e buscar novas empreitadas. Um grande abraço e até logo!
Samir Barel é ultramaratonista aquático